sábado, 16 de maio de 2009

Dia 16 - Berlim

O dia de hoje era de festa na Alemanha, resultado do feriado mais importante do país... Em 1990, neste mesmo 3 de Outubro, as duas Alemanhas reunificaram-se e Berlim voltou a ser uma cidade una também...

Como tal, as ruas estavam repletas de pessoas (um pouco alcoolizadas à medida que as horas iam passando) e a Porta de Brademburgo encheu-se, mais uma vez, de centenas de milhares de pessoas que assistiram a discursos e a concertos numa bancada montada na parte traseira da Porta...

Foi aqui que nos encontrávamos de manhã, altura em que a polícia e os primeiros visitantes começaram a chegar, para começarmos mais uma tour (desta vez não foi gratuita - custou 12€, viagem e entrada no campo incluídas)...

(Contudo, e ao contrario da euforia que reinava na cidade, o nosso dia foi marcado pela tristeza e pela memoria de um dos mais terriveis acontecimentos da historia da humanidade)

Assim, e durante mais de 6 horas, fomos visitar o campo de concentração de Sachsenhausen, a cerca de 40 minutos de Berlim...

Este campo foi o primeiro campo oficial dos nazis e serviu de modelo para todos os demais... Apesar de não ser um campo de morte (como o de Auschwitz), mas sim um campo de trabalhos forçados, ali morreram entre 60 a 100 mil pessoas (especialmente judeus, ciganos, homossexuais, alcoólicos e criminosos de todo o tipo)...

Esta visita, realmente marcante, retrata fielmente o terror que os nazis impuseram durante a sua ditadura e fica marcada pela enorme emoção que paira no ar...

Depois de fazermos a caminhada entre a estação de comboios de Oranienburg e o campo de concentração, tal como o fizeram milhares de pessoas nos anos 30 e 40, fomos recebidos pela inscrição "Arbeit Macht Frei" (o trabalho libertar-te-á)....

Depois, estivemos parados na entrada do campo (mais uma vez, como todos os prisioneiros) onde se podia ver um semi-circulo onde os "trabalhadores" eram forçados a percorrer até 40 km por dia um terreno com diversos tipos de pisos, de forma a testarem as botas que eles próprios faziam no campo... Imaginem o que seria percorrer uma maratona, com um saco de areia às costas (para simular o peso do equipamento militar nazi), debaixo de condições atmosféricas que poderiam ser de 20 ou 30 graus negativos, e com os graves efeitos causados por períodos enormes de fome e tortura física e psicológica...

Andando um pouco por dentro do campo, visitamos as barracas onde eles dormiam, que tinham capacidade para 150 pessoas - mas onde eram comum estarem entre 300 a 800 pessoas lá dentro - com apenas 8 sanitas e duas mini fontes de agua para se lavarem... E, todas as manhãs, cada prisioneiro tinha 45 minutos para se levantar, tomar banho, tomar o pequeno-almoço (uma fatia de pão e uma mistura à base de café) e fazer a cama de forma militar... Quem falhasse estas tarefas seria violentamente agredido em frente de toda a gente, durante a contagem matinal...

Um pouco mais tarde fomos à prisão dentro da própria prisão, onde os piores prisioneiros eram torturados, interrogados e mantidos em total escuridão, numas celas minúsculas... Entre os prisioneiros que aqui estiveram retidos e aqui morreram conta-se o enteado do Estaline, o prisioneiro-troféu de Hitler...

Depois, e após termos visto uma exposição com alguns documentos, peças de vestuário e restos pessoais encontrados aquando da chegada dos aliados e dos soviéticos, fomos à cozinha e à lavandaria do campo e, de seguida, a morgue (onde se faziam pseudo-autópsias) e à enfermaria, onde eram executadas experiências nos prisioneiros ou onde estes eram tratados para que pudessem voltar a ser torturados ou interrogados)... Perto do final da visita, pudemos ver ainda o local onde os nazis e os membros da Gestapo tinham a sua Joy Division (o bordel), onde centenas de mulheres eram obrigadas a prostituirem-se para os homens do campo (incluindo alguns dos prisioneiros)...

Por fim, e sem duvida o momento mais marcante da visita, fomos à "Estacao Z", o local de exterminacao da maior parte dos prisioneiros do campo... Primeiro, um sitio a céu aberto, onde eram abatidos a tiro à frente de todos os demais e, depois, um outro local, disfarçado de hospital, onde os guardas disparavam um tiro na nuca dos prisioneiros... Esta alteração deveu-se a três factos: primeiro, porque no antigo local os prisioneiros poderiam ver tudo o que se passava, o que lhes causava um enorme desespero, levando-os a pedir clemência e piedade aos guardas (e que, lembre-se, também eram pessoas e, imagine-se, alguns até tinham sentimentos)... Em segundo lugar, e como os prisioneiros sabiam qual seria o seu destino imediato, tornava-se um pouco difícil controlar as suas reacções... Como terceiro ponto, estava-se a tornar difícil transportar os cadáveres até alguns pontos específicos no Reich (especialmente depois de um camião de transporte ter sofrido um acidente e de milhares de corpos terem sido espalhados pela cidade de Berlim, em frente aos residentes que, presume-se, desconheciam a verdadeira historia do campo)...

Assim, construiu-se um edificio parecido com um pequeno hospital, com paredes duplas (para abafar o som da morte) e brancas, com pessoas vestidas de médicos e que asseguravam aos prisioneiros que iriam ser tratados e curados... Depois, entravam para uma sala onde lhes diziam para se encostarem à parede, com a desculpa de que iriam ser medidos... Assim que eles o faziam, os guardas, escondidos numa sala contígua, abriam uma pequena janelinha e disparavam um tiro na nuca dos prisioneiros... De seguida, eram encaminhados para os fornos, onde seriam cremados e transformados em cinzas (que eram espalhadas à volta do campo ou, em alternativa, vendidas às familias dos mortos)...

Desta forma, os prisioneiros não sabiam o que lhes ia acontecer (evitando histerias e pedidos de clemência), os guardas não se sentiam culpados pois não viam quem matavam e, por fim, nao havia corpos para transportar através das cidades, apenas um monte de cinza...

Arrepiante...


No final do dia (extremamente cansativo), voltámos um bocado para a hostel... Para jantar, fomos aos mexicanos novamente, experimentar uma comida ainda mais picante (e voltando a pagar mais 11€ por um litro de água!)...

E assim acabou a nossa estadia em Berlim... Amanhã, bem cedinho, era dia de ir para Amesterdão...

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